Peteca, Pião e Pique-Pessoa - Release

O espetáculo teatral Peteca, Pião e Pique-Pessoa é inspirado em brinquedos tradicionais e em formas brasileiras de contação de histórias, bem como na associação de aspectos do carnaval e da cultura gaúcha, da forma orgânica como isso ocorre no Rio Grande do Sul, sem demonstrações tradicionalistas ou esteriótipos. Em cena, Peteca (Éder Rosa) e Pião (Viviane Juguero) contam a história de Pique-Pessoa, alguém que está sempre em busca de uma saída para ser feliz no futuro, sem vivenciar plenamente o presente. A personagem é masculina ou feminina, conforme quem a interpreta, já que tanto Peteca quanto Pião a representam quando vestem a cartola que a identifica. A ideia está vinculada ao dito popular brasileiro “vestir o chapéu”, que alude ao ato de alguém identificar-se com uma questão que lhe é apresentada. Assim, qualquer pessoa pode se sentir como Pique-Pessoa, em algum momento da vida. O objetivo do trabalho não é a idealização da brincadeira, nem criminalização das preocupações efetivamente presentes no dia a dia, mas, sim, dialetizar esses conflitos, trazendo à tona suas contradições, de forma subliminar.

A peça busca proporcionar momentos divertidos e envolventes, além de sugerir caminhos para a construção de novas percepções e reflexões. No decorrer do enredo, Pique-Pessoa encontra com a boneca Miriam e sua frieza a impede de existir, devido ao abandono afetivo tão presente na vida de muitas crianças. Ao final, Pique-Pessoa, ao visualizar sua própria imagem em um futuro solitário, percebe que não é possível ser feliz no amanhã e busca lidar com a complexidade da vida e resgatar o afeto da boneca Miriam. A peça, por meio de cenas de alegria, tristeza, descoberta, decepção, carinho, dúvida, solidão e cumplicidade, além de muita música, almeja dialogar com as crianças sobre o presente, ao vivenciá-lo afetiva e intensamente.

Em Peteca, Pião e Pique-Pessoa existe a intenção de que o processo de vivência do presente seja reconhecido no aspecto artesanal da singularidade afetiva. Desse modo, distante de incentivar qualquer rivalidade com os brinquedos modernos, o trabalho tem a intenção afetiva de apresentar a novidade de brincadeiras antigas, muitas vezes desconhecidas das crianças da atualidade. Os brinquedos artesanais revelam a singularidade de cada confecção. O processo emana do objeto e potencializa a percepção de vivências do presente. Além disso, as brincadeiras tradicionais propiciam a integração de diferentes gerações, como pudemos verificar em nossas experiências anteriores, quando plateias multietárias cantarolavam e se identificavam com as cantigas do espetáculo Canto de Cravo e Rosa ou com as quadrinhas e parlendas de Quaquarela.

 

Dramaturgia

Peteca, Pião e Pique-pessoa surgiu com base em uma iniciativa da Associação de Teatro para a Infância e Juventude (ASSITEJ), a qual convidou artistas a refletirem sobre o futuro do teatro para crianças, com base no tema “imagining the future”. Inspirada por esse questionamento, Viviane Juguero concebeu a presente proposta, contando com a colaboração de Éder Rosa e escreveu o enredo original, cuja dramaturgia final foi redigida em parceria com Jorge Rein.

Antigamente, a dramaturgia respaldava-se em mitos e contos ancestrais, visto que a sabedoria era compreendida como fruto do passado, vinculado ao conhecimento dos anciãos. Nos últimos tempos, a situação se inverteu e a temática passou a ser as maravilhas tecnológicas do futuro associadas à idealização da juventude, ao aumento da produtividade, ao individualismo e ao desejo de prosperar, em um permanente anseio de um porvir melhor. O que podemos desejar para a dramaturgia do futuro? Uma temática promissora, talvez possa ser, finalmente, viver o presente de forma plena e intensa, em situações colaborativas.

Peteca, Pião e Pique-pessoa trata da relação com o tempo na atualidade, sem, no entanto, haver referenciais sócio-históricos que localizem o enredo em tempo e local precisamente determinados. Essa característica propicia que a identificação ocorra com criançãs de distintas realidades socioculturais. A peça é construída por uma estrutura de metalinguagem que versa sobre a história narrada e o próprio ato de contar histórias, abarcando reflexões, dúvidas e afetos dos narradores em relação com o que contam.

Nesse trabalho, existe a intenção de que o processo de vivência do presente seja reconhecido na singularidade afetiva de sua criação artesanal. O objetivo não é idealizar a brincadeira, nem criminalizar as preocupações efetivamente presentes no dia a dia, mas, sim, dialetizar esses conflitos, externando suas contradições, de forma subliminar.

Peteca, Pião e Pique-pessoa dá continuidade e amplia um caminho trilhado no Bando de Brincantes há quinze anos: a investigação sobre o universo infantil, a cultura popular, a movimentação extracotidiana e a musicalidade.

 

Cenário

O cenário de Peteca, Pião e Pique-pessoa é composto de um baú de madeira (no qual estão brinquedos artesanais que são retirados durante a cena) e de instrumentos musicais, tais como violão, cavaquinho, pandeiro, bombo leguero, etc. O cenário é composto de tons neutros para não haver excesso de informação visual, devido ao forte colorido dos figurinos.

 

Figurinos e acessórios

Os figurinos são coloridos e vibrantes e foram criados por Éder Rosa com o intuito de remeter a figuras tradicionais de contação de histórias, mesclando a estética do carnaval a elementos da cultura gaúcha. Para os acessórios, Rosa buscou trabalhar de forma que a percepção sensorial estivesse associada ao reconhecimento da artesanalidade, em objetos nos quais predominam a madeira e diferentes tipos de tecidos e fitas, além de sementes. Esse processo é um amadurecimento do trabalho realizado por Rosa na criação dos materiais dos espetáculos Quaquarela e Ecos de Cor e Cór.

 

Iluminação

A iluminação procura enfatizar os diferentes climas da cena, em tons que dialogam com a artesanalidade da mesma, evitando excessos de efeitos que prejudiquem a atmosfera de contação de histórias.

 

Trilha sonora

A trilha sonora conta com canções criadas especialmente para o espetáculo, com música de Viviane Juguero e letras de Viviane Juguero e Jorge Rein. Os arranjos foram criados por Viviane Juguero e Éder Rosa e a orientação vocal é de Marlene Goidanich. O trabalho dá continuidade à proposta presente em espetáculos anteriores do Bando, nos quais a música integra e constitui a ação, tendo um caráter narrativo essencial ao desenvolvimento da dramaturgia. A música é feita ao vivo, com violão, cavaquinho, pandeiro, bombo leguero, chocalho de sementes e metalofone.

 

Texto sobre o processo de criação

FOTOS EM ALTA RESOLUÇÃO

Artigo sobre a peça, publicado em inglês e chinês, na Revista da ASSITEJ (pág.32-35)

Artigo sobre a peça, publicado em português, no site do CBTIJ

Estudos Brincantes

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